Por Ulisses Tavares em 10/04/2012 na edição 689
Reproduzido de O TREM Itabirano nº 79, abril
de 2012; intertítulo do OI
Calma, prezado leitor, nem você leu errado, nem eu
pirei de vez. Este artigo pretende isso mesmo: dar novos motivos para que os
moços e moças de nosso Brasil continuem lendo apenas o suficiente para não
bombar na escola.
Continuem, jovens, vendo a leitura como algo
completamente estapafúrdio, irrelevante, anacrônico, e permaneçam habitando o
universo ágrafo dos hedonistas incensados nos reality shows.
(Epa, acho que exagerei. Afinal, quem não lê, muito
dificilmente vai conseguir compreender essa última frase. Desculpem aí, manos:
eu quis dizer que os carinhas, hoje, precisam de dicionário pra entender gibi
da Mônica, na onda dos sarados e popozudas que veem na telinha, e que vou dar
uma força pra essa parada aí, porra.)
Explico mais ainda: é que, aproveitando o gancho do
Salão do Livro InfantoJuvenil, no Parque do Ibirapuera, Sampa, pensei em
escrever sobre a importância da leitura. Algo leve mas suficiente para
despertar em meia dúzia de jovens o gosto pela leitura (de quê? De tudo! De
jornais a livros de filosofia; de bulas de remédio a conselhos religiosos; de
revistas a tratados de física quântica; de autores clássicos a paulos coelhos).
Daí aconteceram três coisas que me fizeram mudar de
rumo e de ideia.
Primeiro, eu li que fizeram, alguns meses atrás, um
teste de leitura com estudantes do ensino fundamental de uma dezena de países.
Era para avaliar se eles entendiam de verdade o que estavam lendo. Adivinhem
quem tirou o último lugar, até mesmo atrás de paizinhos miseráveis e perdidos
no mapa- múndi? Acertou, bródi: o nosso Brasil.
Saída única
Logo depois, li uma notícia boa, que, na verdade, é
ruim: o (des)governo de São Paulo anuncia maior número de crianças na escola,
mas adotou a política da não reprovação. Traduzindo: neguinho passa de ano,
sim, mas continua tecnicamente analfabeto. Porque ler sem raciocinar é como
preencher um cheque sem saber quanto se tem no banco.
E, por último, li, em pesquisa publicada
recentemente nos jornais, que, para 56% dos brasileiros entre 18 e 25 anos,
comprar mais significa mais felicidade, pouco se importando com problemas
ambientais e sociais do consumo desenfreado. Ou seja, o jovem brasileirinho
gosta de comprar muitas latinhas de cerveja, mas toma todas e joga todas nas
ruas ou nas estradas, sem remorso.
Viram como ler atrapalha? A gente fica sabendo de
fatos que, se não soubesse, teria mais tempo para curtir o próprio umbigo numa
boa, sem ficar indignado e preocupado com a situação atual de boa parte de
nossa juventude.
E também faz o tico e o teco (nossos dois neurônios
que ainda funcionam, já que, se dividirmos o quociente de inteligência nacional
pelo número de habitantes, não deve sobrar mais que isso per capita) malharem e
suarem, em vez de ficarmos admirando o crescimento do bumbum e do muque no
espelho das academias de musculação.
Por isso que, num momento de desalento, decidi que
de agora em diante, como escritor e professor, nunca mais vou recomendar a
ninguém que leia mais, que abra livros para abrir a cabeça.
A realidade é brutal e desmentiria em seguida qualquer
motivo que eu desse para um jovem tupiniquim trocar a alienação pela leitura.
Reconheço: a maioria está certa em não ler. E tem,
no mínimo, cinco razões poderosas, maiores e melhores que meus frágeis
argumentos ao contrário:
1. Se ler, vai querer participar como cidadão dos
destinos do país. Não vale a pena o esforço. Como disse Lula (que não teve
muita escola, mas sempre leu pra caramba), a juventude não gosta de política,
mas os políticos adoram. Por isso que eles mandam e desmandam há séculos;
2. Se ler, vai saber que estão mentindo e matando
montes de jovens todos os dias em todos os lugares do Brasil, impunemente;
principalmente, porque esses jovens não percebem nem têm como saber (a não ser
lendo) a tremenda cilada que é acreditar que bacana é mentir e matar também;
3. Se ler, vai acordar um dia e se perguntar que
diabo é isso que anda acontecendo neste lugar, onde só ladrões, corruptos,
prostitutas e ignorantes aparecem na mídia;
4. Se ler, vai ficar mais humano e, horror dos
horrores, é até capaz de sentir vontade de se engajar num trabalho comunitário,
voluntário e parar de ser egoísta;
5. Se ler, vai comparar opiniões, acontecimentos,
impressões e emoções e acabar descobrindo que sua vida andava meio torta, meio
gado feliz.
O espaço está acabando e me deu vontade de lembrar
que ninguém – nem mesmo alguém que não vê utilidade na leitura – pode achar que
há um belo futuro aguardando uma juventude que vai de revólver pra escola e,
lá, absorve não conhecimentos mas um baseado ou uma carreirinha maneira. Sim, é
outra pesquisa que li, esta dando conta de que sete entre dez estudantes
brasileiros andam armados, três entre dez se drogam na escola, sete entre dez
bebem regularmente.
Mas paro por aqui, já que, apesar desses tristes
tempos verdes e amarelos (as cores do vômito, papito), lembro também de tantos
poetas, jornalistas e escritores que, ao longo de minha vida de leitor
apaixonado, me deram toques de esperança, força e fé na mudança.
De um especialmente – o poeta Thiago de Melo –, com
seu verso comovido e repleto de coragem: “Faz escuro, mas eu canto!”
Talvez meu pequeno cantar sirva de guia do homem (e
mulher) de amanhã. E que, lendo mais, ele/ela evite ter como única alternativa
para mudar de vida dar a bunda (e a alma) ou engolir baratas (e a dignidade)
diante das câmeras.
***
[Ulisses Tavares é poeta, jornalista, publicitário,
roteirista de televisão e professor]
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed689_por_que_o_jovem_nao_deve_ler
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed689_por_que_o_jovem_nao_deve_ler
acessado em 19/06/2013
Prezado aluno! Após a leitura
deste texto e sua análise, formule um texto colocando suas argumentações, a
favor e contra, sobre o tema central.
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