Teólogo da Libertação, escritor,
professor e conferencista, doutor em Teologia e Filosofia pela Universidade de
Munique (Alemanha), professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros
de estudo e universidades no Brasil e no exterior. Autor de mais de 60 livros
nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística.
"Desenvolvimento
sustentável", fórmula mágica com o qual o sistema mundial de convivência e
de produção pretende resolver os problemas que ele mesmo criou, por mais oficial
que seja, representa uma contradição, um equívoco e uma ilusão.
É uma contradição, pois, os dois
termos se rejeitam mutuamente. A categoria "desenvolvimento" provém
da área da economia dominante. Ela obedece à lógica férrea da maximalização dos
benefícios com a minimalização dos custos e do tempo empregado. Em função deste
propósito se agilizaram todas as forças produtivas para extrair da Terra
literalmente tudo o que é consumível. Ela foi torturada pela tecno-ciência e
submetida a um assalto sistemático de suas riquezas no solo, no subsolo, nos
ares e nos mares. O resultado foi uma produção fantástica de bens materiais e serviços,
mas distribuídos sem justo equilíbrio. Essa falta de equilíbrio está destruindo
a paz entre os povos e ameaçando a biosfera, submetida a estresse quase
insuportável.
A categoria
"sustentabilidade" provém do âmbito da biologia e da ecologia, cuja
lógica é contrária àquela deste tipo de "desenvolvimento". Por ela se
sinaliza a tendência dos ecossistemas ao equilíbrio dinâmico e se enfatizam as
interdependências de todos, garantindo a inclusão de cada ser, até dos mais
fracos. Como se depreende, unir esse conceito de sustentabilidade ao de
desenvolvimento configura uma contradição nos próprios termos.
Dizíamos ainda que o "desenvolvimento
sustentável" representa um equívoco. Sim, pois, se alega como causa aquilo
que é efeito. Diz-se que a pobreza é a causa da degradação ecológica. Portanto,
quanto menos pobreza e mais desenvolvimento menos degradação. Analisando,
porém, as causas reais da pobreza e da degradação vê-se que resultam exatamente
do tipo de desenvolvimento praticado. Ele explora as pessoas empobrecendo-as e
dilapida os recursos da natureza degradando-a. Por isso, a utilização política
da expressão "desenvolvimento sustentável" representa uma armadilha
do sistema: assume os termos da ecologia (sustentabilidade) para esvaziá-los e
assim mascara a verdadeira causa do problema social e ecológico (tipo de
desenvolvimento) que ele mesmo é.
Por fim, a fórmula
"desenvolvimento sustentável" significa uma ilusão. Postula-se um
desenvolvimento que se move entre dois infinitos: o infinito dos recursos da
Terra e o infinito do futuro. A Terra seria inesgotável em seus recursos. E o
futuro para frente, ilimitado. Ora, os dois infinitos são ilusórios: os
recursos são finitos e o futuro é limitado, por não ser universalizável. Se a
Índia quisesse ser como a Inglaterra, precisaria de duas Terras para explorar,
como já dizia ironicamente Gandhi nos anos 50.
O "desenvolvimento sustentável"
não é uma panacéia, mas um placebo. Persistir em aplicá-lo, é enganar o
paciente, talvez, matá-lo. É o que tememos com a biosfera. Entender tal
equívoco é entender o porquê do impasse na Cúpula da Terra no Rio-92 e agora em
Johnesburgo-2002. A categoria mestra é sustentabilidade e não desenvolvimento.
Precisamos a Terra, a sociedade e a vida humana sustentáveis. Em seguida o
desenvolvimento. É o que os senhores do "desenvolvimento
(in)sustentável" não entendem. O Titanic está vazando água por todos os
lados. Não temos tempo a perder. Importa despertar senão pode ser tarde demais.
Isso não é ser apocalíptico, mas simplesmente realista.
Fonte:
Disponível em: <http://www.hortaviva.com.br/midiateca/bg_polenizando/msg_ler.asp?ID_MSG=118> Acesso em 20 abril 2019